sábado, 9 de março de 2013

Nova agricultura em solo alentejano

O regadio abriu portas a uma nova agricultura em solo alentejano. São várias as culturas que estão a surgir e muitas mais podem vir a instalar-‑se. Romã, cebola, clementinas, papoila e amendoal são apenas algumas das que já estão na região e com boas perspetivas de desenvolvimento. A caminho estão, por exemplo, mais hortícolas, amendoins, figueiras e mais nogueiras. Sem esquecer o olival, a vinha e os cereais, tanto em sequeiro como em regadio. A culpa é do clima, dos bons solos e da garantia de água.
A perspetiva e a garantia de água, vinda de Alqueva, mas também a necessidade de diversificar as culturas, trouxeram à região uma nova agricultura.
Pelos campos, antes salpicados maioritariamente de laivos dourados, tal era a abundância de cereal, avistam-se agora mais tonalidades, consoante a cultura que acolhem. O verde, porém, predomina. É inegável que este chão acolhe centenas de pés de oliveiras. O olival em extensivo propagou-se. Mas a vinha também ornamenta o território.
Este ano, porém, há uma cultura que superou todas as expetativas, sobretudo pelo rendimento que alcançou. É o milho a dar lucro. E a explicação é simples. As variedades têm um peso muito grande e as produções têm vindo a aumentar. Mas, de facto, este ano, o que aconteceu foi um aumento do preço do milho, que foi para valores que há muito não atingia. A seca que afetou os Estados Unidos e a Rússia ajudou a que os preços subissem e que dessem mais rendimento aos agricultores.
Mas há mais, muitos mais. A terra baixo alentejana acolhe hoje diversas culturas, umas em estudo de adaptação, outras com resultados surpreendentes. Outras ainda em franca expansão. E há também tantas outras que aqui ambicionam florescer. É o caso do amendoim. E a culpa, essa, mais uma vez, é da existência de água, dos bons solos e do calor.
A PepsiCo, multinacional americana, quer tornar-se autossuficiente na produção de amendoim no mercado europeu e encontrou na região excelentes condições, tendo já sido apresentado aos agricultores, no início do mês, através da EDIA – Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas do Alqueva e da Torriba – Organização de Produtores de Hortofrutícolas, o projeto “A cultura de amendoim na área de influência de Alqueva”.
“Trata-se de um projeto pioneiro”, garante a EDIA, em comunicado enviado. E acrescenta: “Diminuindo a dependência relativamente ao continente americano, a PepsiCo pretende adquirir um maior controle da matéria-prima e um menor impacto em termos da pegada de carbono”.
Para a EDIA, “a plantação de amendoim é uma alternativa às culturas já existentes na área de influência de Alqueva, conciliável com a rotação das culturas próprias da região, apresentando-se como uma oportunidade para os agricultores”.
O projeto, denominado Euronuts, passou por uma fase experimental de dois anos, levada a cabo em colaboração com a Torriba, que instalou e acompanhou cerca de 320 hectares no Ribatejo e Alentejo. “Os resultados comprovaram a viabilidade da plantação”, garantem os responsáveis.
“A escolha de Portugal para desenvolver este projeto prende-se com questões edafoclimaticas e com a presença de um tecido produtivo profissional e dinâmico, organizado e predisposto a agarrar novos desafios”, dizem.
Quem também está disposto a agarrar novos desafios são os produtores de romã, cultura que também está em desenvolvimento na região. João Pacheco, jovem, encontrou no fruto uma oportunidade de negócio. Tinha olival, mas resolveu apostar fortemente na romã.

Entre Aljustrel e Messejana desenvolve o seu pomar. João Pacheco, 33 anos, e com muita vontade de criar o seu próprio destino, é um dos agricultores que faz parte de um projeto mais ambicioso, que já começa a dar os primeiros passos. O desenvolvimento de um projeto transfronteiriço no âmbito da competitividade do sistema económico.

“A Câmara Municipal de Aljustrel estabeleceu um protocolo de colaboração com o ayutamiento de Lepe (Andaluzia, Espanha) e foram efetuadas visitas às regiões, em parceria com a Associação de Beneficiários do Roxo. Efetuaram-se ainda muitos contactos com a Agelepe (associação de empresários de Lepe) e começou a pensar-se em arranjar uma cultura que nos pudesse unir. Espanha tem poucas áreas regadas e esta zona do perímetro de rega do Roxo tornou-se, assim, atrativa. Surgiu, então, a ideia da romã”, explica António Parreira, presidente da Associação de Beneficiários do Roxo. E acrescenta: “Atualmente já foi criada a Ibergranatum. Que vão ser duas empresas. Uma em Espanha e outra em Portugal. Iremos ter 50 por cento de capital da empresa espanhola. E eles terão 50 por cento de capital da empresa portuguesa”.
Trata-se, assim, de uma sociedade agrícola e industrial Aljustrel-Lepe. E já são vários os agricultores interessados em começar a produzir romã.
Lembra-se de João Pacheco? Foi o primeiro a iniciar-se.“Comecei a estudar o produto e resolvi investir. Entusiasmei-me com esta cultura. Temos todas as condições e não produzimos romã. Há apoios para jovens agricultores e resolvi correr este risco relativamente controlado”, garante. E até agora não se arrependeu. É engenheiro florestal de formação e dedica-se a tempo inteiro à agricultura. Espera colher os frutos no próximo ano. Para já conta com sete hectares de romã, mas já pensa estender a produção aos 15.
“A romã é uma cultura tradicional da nossa região. Não há horta ou monte que não tenha uma romãzeira, no entanto, nunca foi explorada como tal”, lembra o presidente da Associação de Beneficiários do Roxo. Panorama, esse, que também está a mudar, até porque o fruto é cada vez mais procurado, nomeadamente por ser rico em antioxidantes.
E que mais está a crescer nesta região? A cultura da cebola. A sua produção está em desenvolvimento e os resultados estão a surpreender até os mais pessimistas. É o sequeiro, mais uma vez, a dar lugar ao regadio.
“Resolvemos avançar com a cultura da cebola e curiosamente conseguimos melhores produções que na Golegã. Toda a gente está espantada com as produções de cebola que conseguimos no Roxo. Temos produções que, em média, rondam as 70 toneladas. Houve produções de 80 toneladas por hectare, o que foi muito bom. Ninguém estava à espera destas produções, nem os próprios técnicos que trabalham em cebola no Ribatejo há vários anos. Acredito, por isto, que é possível”, diz António Parreira. Lembrando, no entanto, que “só o produzir não chega”. “É preciso arranjar estruturas para conservar, para embalar e para colocar no mercado”. Até porque, em sua opinião, seja para o romã ou para a cebola, “é preciso atrair agroindústria para a região”.
Na herdade Fernando-Espanha, na freguesia de Quintos, em Beja, também se planta cebola, embora a água de Alqueva ainda não tenha aqui chegado. “Esperamos que chegue em 2015, para não estarmos tão limitados”. Condeço Pereira, proprietário, espera regar 200 hectares, dedicando-se a diversas culturas.
“A cebola requer muita água. Temos um contrato com uma empresa da zona de Badajoz e a produção é paga. É tudo feito por nós, mas dão-nos apoio na sementeira, na colheita e no transporte. Toda esta produção vai para Espanha”, diz o agricultor. E acrescenta: “Há gente a apostar na cebola, mas o grande problema é que não temos estruturas de comercialização, daí muita da produção da região ir para Espanha”.


Para Condeço Pereira, “os solos da região são bons para quase todas as plantações. O clima também é bom e existindo água é normal que surjam muitas mais culturas”, diz. Como a produção de papoila, a que também se dedica.
“Não conhecia esta cultura. A única coisa que sabia era o que via nos filmes. Fui convidado por uma empresa inglesa, uma multinacional que quer fazer uma experiência, onde pretende verificar se a cultura da papoila é rentável aqui. Há dois anos que se faz e, segundo eles, os resultados são muito animadores”, diz. Para rapidamente acrescentar: “A sementeira é mais complicada nesta cultura. A semente é muito miúda, sensível. Se for muito enterrada não nasce. De resto é uma cultura normal, como outra qualquer. Necessita de água e calor, daí estarem a apostar na sua produção nesta região”, diz, adiantando, contudo, que os agricultores que estão neste projeto pioneiro ainda “não estão informados sobre os resultados económicos”. A empresa paga um valor fixo. Não sabemos qual o valor da produção. É tudo para converter em morfina e por isso ainda não temos conhecimento de valores”, conclui.
Para já, tem 10 hectares de papoila e este ano não pretende baixar a fasquia. “Encarregam-se da colheita e transportam a produção, que tem de ser carregada em contentores especiais. Cerca de 15 agricultores, entre Beja, Serpa e Ferreira do Alentejo, estão a produzir papoila”, garante.
O “Diário do Alentejo” foi ainda informado de que em solo alentejano, contudo, há mais a surgir. Com o regadio a extensão de amendoal está a aumentar, estão a colher-se clementinas com algum sucesso e as hortícolas podem ser a aposta futura, tendo por base o caso de sucesso da cebola. A caminho está ainda a plantação de figueiras e de mais nogueiras. É, assim, uma nova agricultura que surge em terras regadas.

Fonte: "Diário do Alentejo"


Associações de Portugal e Espanha criam empresas para produção de romã no Alentejo e na Andaluzia

A Associação de Beneficiários do Roxo (ABR) e a Geral de Empresários de Lepe (Agelepe), de Espanha, criaram duas empresas, no Alentejo e na Andaluzia, para promoverem a produção de romã, fruto com "interesse mundial muito grande", devido ao seu "poder antioxidante".
As empresas, com os mesmos estatutos, conselho de administração e nome (Ibergranatum), foram criadas após conversações entre ambas, na sequência de um protocolo entre a Câmara de Aljustrel e o Ayuntamiento de Lepe.
As associações são as acionistas e detêm 50% do capital de cada uma das empresas, sendo que a portuguesa, criada hoje, está sedeada na ABR, na aldeia de Montes Velhos, no concelho de Aljustrel, no Baixo Alentejo, e a espanhola, criada no passado mês de novembro, tem sede na Agelepe, na zona de Lepe, na província de Huelva, na Andaluzia (Espanha). O objectivo principal das empresas é "promover a cultura da romã em Lepe e em Aljustrel", nomeadamente cultivo, transformação, distribuição e comercialização do fruto, "garantindo o escoamento da matéria-prima", disse à agência Lusa o presidente da ABR, António Parreira.
A cultura da romã, que tem "potencial", adapta-se e é capaz de promover o desenvolvimento económico de Aljustrel e Lepe, tem vindo a ganhar "um interesse mundial muito grande, devido ao seu poder antioxidante", frisou, referindo que o fruto tem "numerosas formas de aproveitamento" nas indústrias alimentar e farmacêutica.
A escolha de Lepe, para instalar a empresa espanhola, deveu-se à experiência do município na produção de culturas de regadio, como as hortícolas e frutícolas, e às estruturas de transformação e comercialização que desenvolveu, disse.
A opção por Aljustrel, para instalar a empresa portuguesa, deveu-se à área regada pela albufeira do Roxo, que, actualmente, ronda 7.000 hectares e poderá chegar "a curto prazo" a 23.000 hectares, "uma vez que já está concluída a ligação Alqueva-Roxo", explicou.
Segundo António Parreira, inicialmente, as zonas de influência das empresas serão os concelhos de Aljustrel e limítrofes, beneficiados pela albufeira do Roxo, e o município de Lepe, prevendo-se que sejam alargadas "o mais possível" a nível nacional e internacional.
"Quantos mais agricultores e instituições estiverem ligados" ao projeto, "melhor" será a "penetração" das empresas nos mercados nacional e internacional, frisou.
António Parreira disse esperar que a adesão de agricultores ao projeto e à produção de romã "venha a ser muito positiva", porque trata-se de uma cultura "interessante para as zonas regadas".
As expetativas de produção de romã são "boas", devido ao "entusiamo dos agricultores" para a cultura, que, segundo um estudo técnico encomendado pelas associações, "poderá ter um interesse económico bastante elevado", disse.
Cerca de 40% da produção de romã no âmbito do projecto das empresas será comercializada em fresco e o restante servirá para produtos transformados, disse, frisando que é possível "rentabilizar a cultura" apenas com aquelas duas vertentes.
Para comercializar os frutos produzidos, as empresas, "inicialmente", vão estar "focadas" nos mercados português e espanhol, mas também pensam noutros e irão procurar "os melhores" para a romã e produtos derivados, disse.


Vila Real vai construir um Observatório da Biodiversidade

O projecto está incluído no Programa de Preservação da Biodiversidade, lançado em 2010, e implica um investimento de 1,7 milhões de euros.
 
A Câmara de Vila Real anunciou esta segunda-feira a construção do Observatório da Biodiversidade, que resulta da reabilitação de um edifício das antigas minas de volfrâmio e vai revelar espécies como a carnívora drosera ou a borboleta azul.
O projecto está incluído no Programa de Preservação da Biodiversidade, lançado em 2010, e que conta com um investimento de 1,7 milhões de euros, aprovado no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte.

O vereador Miguel Esteves adiantou, em conferência de imprensa, que em breve se iniciará a recuperação do edifício das minas de volfrâmio, na Quintã, zona da Campeã, que albergará o observatório. O projecto estender-se-á a uma lagoa artificial, que começou por ser uma dissonância ambiental, mas que acabou por captar uma grande variedade de espécies, que poderão ali ser observadas.

Carlos Lima, coordenador do programa, salientou que são cerca de cinco hectares que vão funcionar como uma “montra” da biodiversidade do concelho, destacando a existência da drosera, uma pequena planta carnívora. No local foram também identificados alguns ninhos de myrmica, a formiga que faz parte do ciclo biológico da borboleta azul e o que leva a supor que este lepidóptero regressou ao vale da Campeã. Carlos Lima referiu ainda que o observatório vai ser também um ponto de concentração para “experiências entre a população rural e o desenvolvimento de projectos relacionados com plantas aromáticas e medicinais”.

Em Julho serão inaugurados vários bio-percursos e, entre 21 e 22 de Março, em Vila Real, decorre o Fórum Biodiversidade, que pretende divulgar as diferentes actividades que têm sido feitas no âmbito do programa. Em curso está a requalificação das margens do rio Corgo, que atravessa a cidade, tendo sido realizadas ainda várias “Rogas dos Rios”, acções de voluntariado com vista à limpeza dos cursos de água, e construídos muros no Alvão para proteger os sapos que morriam frequentemente atropelados.
 
Fonte: "Jornal Público" 18/02/13

2017 Compromissos

O ano de 2017 começou auspicioso. Pode parecer que não pois só agora tive um pouco de tempo para recomeçar de novo a publicar as investida...